domingo, 7 de novembro de 2010

Superando frustrações em busca de um novo amor

É grande o número de pessoas que escrevem mensagens para o Seja+ por estarem preocupadas com suas futuras relações. Em geral, trata-se de homens e mulheres que tiveram frustrações em relacionamentos anteriores e que, por esta razão, temem uma nova decepção. Muitos se consideram mais desconfiados, pessimistas, ou mesmo mais amargurados, do que já foram antes. O motivo para isso é razoável: se o relacionamento anterior terminou e trouxe sofrimento e, mais do que isso, se houve uma grande decepção com alguém em quem havia muita confiança, por que confiar em outras pessoas? Como acreditar novamente no amor, se a última experiência foi frustrante? Embora considere que o temor de todos os que nos escrevem seja compreensível, tenho algumas reflexões a fazer sobre o assunto.

Em primeiro lugar, algo não muito animador, porém extremamente verdadeiro: sofrimentos são inevitáveis. E não estou me referindo apenas ao amor e aos relacionamentos, mas a tudo na vida. Gosto de fazer uma analogia entre diferentes experiências da vida e o aprendizado de andar de bicicleta. Para aprender a andar de bicicleta sem rodinhas, é necessário cair. É quase impossível alguém tirar as rodinhas e se equilibrar perfeitamente, sem cair sequer uma vez. Cair, portanto, faz parte do processo. É desagradável, às vezes dói, gera frustração... Mas é necessário. Quem cai uma vez e desiste não aprende a andar de bicicleta. Para aprender, é preciso que a queda não signifique o fracasso total. Pensando assim, a pessoa cairá uma, cinco, dez vezes... Mas aprenderá. Com os relacionamentos amorosos, guardando-se as devidas proporções, o processo é semelhante. Embora existam pessoas que passam o resto da vida com seu primeiro amor, isso não é o mais comum. Geralmente o que acontece é que nos relacionamos, nos frustramos, amamos novamente, temos novas decepções, nos relacionamos de novo, e por aí vai. Quem desiste diante da primeira frustração não consegue se relacionar novamente. O que quero dizer é que, assim como a queda no processo de aprender a andar de bicicleta, as frustrações e as tristezas fazem parte do processo de se relacionar. Chega um momento, no entanto, que deixamos de cair, ou seja, conseguimos ter relações satisfatórias e com um desfecho feliz.

Se parece desanimador pensar que o sofrimento faz parte do processo, é importante ter em mente que ele pode levar ao crescimento, ao amadurecimento. Isso acontece quando usamos nossas experiências dolorosas em nosso favor, e não contra nós mesmos. Deixe-me exemplificar, e talvez o que estou dizendo fique mais claro. Joana pode ter tido uma experiência frustrante com seu parceiro, que a decepcionou e a fez sofrer, o que culminou com o fim da relação. Joana pode passar a temer novos relacionamentos, por acreditar que poderá viver novamente a mesma situação. Diante desse temor, recolhe-se e não se dá a oportunidade de ter novas experiências. Maria teve uma vivência parecida com a de Joana. Também teve decepções e tristezas em seu último relacionamento. A diferença, no entanto, é que Maria pôde olhar para sua experiência e aprender com ela. Maria percebeu que poderia ter conduzido determinadas situações de modo diferente e que poderia ter agido de outra maneira em outras ocasiões, o que daria um desfecho diferente à sua história. A diferença entre Joana e Maria é que a primeira caiu da bicicleta e desistiu de aprender. Já Maria não, ela caiu, analisou o por quê da queda e decidiu tentar novamente. Maria, portanto, aprendeu com a experiência que teve, e pôde crescer a partir da frustração.

Nossas duas personagens fictícias se parecem muito com as pessoas reais. Há aquelas que se deixam abater com experiências dolorosas e acabam desistindo, mas há também outras que usam essas mesmas vivências em seu favor. Por esta razão, já que não se pode evitar a frustração nos relacionamentos, é essencial que elas sirvam como aprendizado e possam levar ao amadurecimento. Para isso, é importante poder ter um olhar crítico para si próprio e para a relação. O que levou ao término? Como cada um contribuiu para isso? Qual a própria parcela de responsabilidade na frustração vivenciada? Aliás, antes mesmo de refletir sobre o fim da relação, há outras perguntas importantes: como a escolha do parceiro foi feita? Será que os critérios de escolha continuam os mesmos? Poder olhar para si mesmo pode ser um exercício complexo, mas é essencial. Mais do que culpar o outro pelo desfecho infeliz da relação, é necessário poder pensar na própria participação na história.

Outra coisa importante de ser pensada é que o futuro não precisa ser uma cópia do passado. Desta forma, se houve uma (ou mesmo mais de uma) experiência frustrante, isso não quer dizer que uma pessoa só terá vivências desse tipo. Geralmente as experiências se repetem quando não somos capazes de entender bem o que aconteceu, quando não podemos olhar para nós mesmos e identificar como colaboramos para a situação. Se repetem, portanto, quando não somos capazes de aprender com a experiência. Se usarmos a vivência que tivemos em nosso favor, estaremos atentos para que situações semelhantes não ocorram. Se concluirmos, por exemplo, que nossa escolha não foi a melhor, mudaremos a maneira de escolher um parceiro. É importante ter em mente que nosso futuro e nossas relações nos pertencem, somos nós quem tomamos um caminho ou outro. As pessoas que dizem “atrair” determinados parceiros ou relações problemáticos em geral não conseguem ver o quanto elas próprias buscam tais situações.

Espero que essas reflexões possam ajudar aqueles que estão aflitos com a ideia de que as frustrações que tiveram podem vir a se repetir. Não é que isso não possa acontecer. Assim como no caso da bicicleta temos várias quedas até aprendermos, no caso dos relacionamentos às vezes também são necessárias várias decepções. O importante é usar essas decepções como um aliado e não como um inimigo que nos leva a recuar. Por isso, não devemos temer novas relações nem novas quedas. O tempo e as experiências fazem com que possamos experimentar o prazer de andar sem rodinhas sem cair.

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