segunda-feira, 21 de março de 2011

A torcida contra seu time


A vida é um passe em: A torcida contra seu time


Esse tema é polêmico, muitos vão querer “me malhar” da maneira com que fazem com os jogadores, só porque vou tocar em uma ferida de nossa bela torcida acepena. Torcedor do ACP anda torcendo “pro touro ou pro toureiro” (conforme a expressão do estiloso Pedrão da Cultura)?

A passionalidade dos torcedores em qualquer estádio de futebol é famosamente definida pelos sociólogos Elias e Dunning como uma espécie de “fissura na civilidade” dos homens, ou seja, um jogo de futebol é o momento onde os torcedores perdem certo controle da racionalidade e do recato social e deixam-se levar por pulsões predominantemente emocionais (passam a ser “não civilizados” em um jogo). Isto explica os gritos do torcedor, os palavrões e, eventualmente, as brigas e provocações feitas em um jogo.

Mas o que dizer da variação cultural entre os torcedores? A tese de Elias e Dunning generaliza a atitude dos torcedores e faz com que se perca o particular em uma relação de torcida. Afinal, há diversas formas de torcer e não somente com gritos e xingamentos: a torcida do Corinthians grita o nome de cada um de seus jogadores antes do jogo; a do São Paulo faz questão de ressaltar os seus três títulos mundiais.

E a torcida do ACP? Como vai a cultura de torcer por aqui?

Os torcedores de Paranavaí que comparecem ao estádio têm como cultura a pressão total sobre os seus próprios jogadores. Como o número de torcedores que compareceram ao WW neste ano não ocupou a maioria do estádio, os torcedores podem manifestar-se individualmente – em alto e bom som – sobre a equipe em campo. Estas manifestações chegam fácil ao campo e não são positivas: individualmente, um torcedor “massacrou” o goleiro Ednaldo em algumas partidas (claramente deixando-o nervoso em campo e o fazendo errar, como na partida ante o Iraty na primeira fase); na partida contra o Roma de Apucarana, o comentarista Rafael Souza ressaltou “como o Ferraz joga bem fora de casa!”; na derrota contra o Cianorte, o narrador da RPC percebeu que “curiosamente, os torcedores tão vaiando o seu próprio jogador expulso (Jaime), ao invés de defendê-lo diante do árbitro”; até para o discreto e educado Rogério Perrô já sobrou...

Em Paranavaí, estranhamente, o adversário parece estar vestido de vermelho!

E assim vai. O ACP acaba de ser derrotado pela sexta vez consecutiva no estadual, e não digo que a culpa é “da torcida que joga contra”, mas é evidente que os torcedores locais influenciam nas atuações. Também não digo que a torcida não deva se manifestar diante de seus jogadores, pois cobranças são comuns no futebol. Afinal, faço aqui somente uma observação sobre o comportamento dos torcedores.

Um dos trunfos de se “jogar em casa” é por se ter torcida à favor, e é fato que os torcedores de Paranavaí estão extremamente impacientes (e, por vezes, desrespeitosos) perante os seus próprios jogadores. Alguns torcedores do ACP assemelham-se em comportamento aos povos estudados por Pierre Clastres em A Sociedade Contra o Estado: no entendimento de que o “Estado” são as relações de poder que colocam um líder tribal no poder, Clastres interpreta que os povos agem “contra” o seu chefe pela necessidade de reforçarem seus vínculos sociais e para colocarem os chefes unicamente como “serviçais” da sociedade. Os torcedores acepeanos que criticam agressivamente os jogadores fazem com que este seja um momento de os atletas serem “serviçais” de suas frustrações e raivas. Talvez até por não terem realizado o sonho de serem eles, os reclamantes, jogadores de futebol...


(Ps. Este é um problema presente desde o ano passado, quando vários jogadores chegaram a dizer que não se sentiam bem jogando em Paranavaí, tamanha era a agressividade diante deles. Se o time não vence em casa, convenhamos, o problema não é do treinador – um dos melhores do interior – e nem dos atletas – um elenco competitivo e formado entre as tantas limitações de clube interiorano.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário